Antecendentes Históricos às Ecovilas se Vistas como Comunidades Alternativas
Acerca de idéias e propostas, de filósofos e empreendedores, que desde a antiguidade pensaram em comunidades alternativas ou auto suficientes, associadas ao lado ético e social. A proposta das mesmas eram diferentes, mas podemos ver pontos em comum com a ideias propostas e princípios que regem as ecovilas.
Antecendentes Filosóficos e Propostas para Comunidades Alternativas
Antes das idéias das Ecovilas, estas comunidades alternativas que buscam a sustentabilidade, existiram outros exemplos de iniciativas práticas como também de idéias e movimentos ideológicos que propuseram modelos alternativos de convivência entre os humanos e quanto ao modo como se relacionavam com o consumo e a produção. E algumas se estendo também ao relacionamento com o ambiente e os elementos materiais do local em que vivem.
Certamente que, os exemplos que cito aqui são os que eu pessoalmente considero mais destacantes ou importantes, pelo menos no instante em que escrevo esta página ou pequeno artigo. Mas certamente existem outros que eu poderia citar também, e que talvez, se eu retornar à este tema eu o farei.
Platão e A República
A República, cidade ideal de Platão, proposta na antiguidade, tinha como número ideal de habitantes 5.040, considerava o desenho e planejamento com fins de unir o homem ao universo, desenho planejado em função de um complicado esquema cosmológico. Independentemente das motivações e de ser um sistema idealista, e não derivado da experiência, demonstra a preocupação de propor solução alternativa à existência do homem, considerando bem estar e aspectos inerentes à natureza humana, como o fator espiritual e boa convivência.
Utopia, de Thomas Morus
Durante a Renascença, por volta do ano 1500 Thomas Morus escreveu "A Utopia", onde também propunha uma sociedade alternativa às existentes e apresenta um modelo de civilização com igualdade e harmonia.
Alguns especulam que Thomas More teria sido influênciado por relatos fantásticos acerca dos nativos da costa costa brasileira como também sobre novas comunidades aqui criadas, através dos relatos do navegador Américo Vespúcio que esteve no Brasil em 1502, em uma das três naves da expedição Portuguesa chefiada por Gaspar Lemos.
Américo Vespúcio passou por vários locais da costa brasileira, entre eles Cabo Frio, perto do Rio de Janeiro, e em uma praia em Arraial do Cabo deixou um marco existente até os dias de hoje. No local também ficaram 24 homens com a missão de fundar um povoado e colonizar o local. Segundo a especulação de alguns, os relatos fantasiosos sobre aquela emergente comunidade teria sido uma das fontes de inspiração para seu famoso livro, "A Utopia".
Modelos Propostos de Comunidades Intencionais e Autosuficientes no Século 19
No século 19, surgiru o "Socialismo Utópico", cujo nome deriva da "Utopia" de Thomas Morus. Entre alguns dos principais pensadores do socialismo utópico, estavam Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858).
Falanstérios | Comunidades Intencionais propostas por Charles Fourier
Fourier propôs e idealizou um modelo arquitetônico para habitar uma comunidades de cerca de 2.000 à 3.000 pessoas, que seriam chamados de falanges ou falanstérios, onde haveria produção e consumo baseado em um sistema de cooperativismo completo e auto-suficiente, e onde o homem seria livre para exercer suas vocações e gostos individuais, desenvolvendo suas potêncialidades.
Em função dos falastérios propostos por Fourier, surgiram comunidades "intencionais" seguindo seus príncipios, intencionais por agrupavam pessoais com intenções e ideais de convivência pacífica e harmônica, buscanco boa relação de respeito e cuidado com a natureza do local onde escolhem para se agrupar.
Alguns falastérios foram criados, nos EUA e América do Sul por imigrantes. No Brasil existiram experiências no Paraná e em Santa Catarina, respectivamente a Colônia de Santa Cecília e o Falanstério do Saí. Nos EUA foram criadas a Falange de Nova Jersey, as comunidades chamadas de A Utopia no estado de Ohio e La Réunion no Texas.
Comunidades Intencionais Socialistas propostas por Robert Owen
Robert Owen, um artesão que se tornou um rico industrial do setor textil, após ter defendido e criado vários benefícios para seus operários, e ter criticado frontalmente o capitalismo, acabou tornando sua vida invíavel na Inglaterra.
Em seus escritos, R. Owen propós associações modelo de trabalhadores, baseadas em pequenas comunidades semi-rurais, com um número de habitantes entre 500 à 3000 pessoas. Segundo ele, este seria o tamanho ideal para uma comunidade higiênica e ordenada, e propunha também que as comunidades fossem federadas entre sí.
Após mudar-se para os EUA, fundo uma colônia socialista chamada de New Harmony ou Nova Harmonia em 1828 no estado de Indiana, de curta duração, tendo lá perdido 80 por cento de sua fortuna.
Para New Harmony, Owen pensou em um modelo de convivência idealizado, baseado em uma cidadezinha, formado por uma pequena comunidade, que trabalhasse coletivamento tanto nas oficinas como no campo, possuindo todos os serviços necessários, e que esta comunidade fosse auto-suficiente.
O modelo arquitetônico idealizado e proposto por Owen, era um grande edifício com simetria típicamente neoclássica, entretanto a sua idéia de pequena comunidade auto-suficiente e possuindo todos os serviços necessários se aproxima de parte da definição das ecovilas.
Após a decepção de New Harmony, retornou ao Reino Unido, onde faleceu aos 87 anos após uma vida ousada e produtiva, tanto sobe o ponto de vista econômico, intelectual e social. Neste período, após seu retorno, organizou um sistema de bolsas de trabalho e uma rede de cooperativas, além de ter promovido uma grande união sindical.
Medievalismo, Cooperativismo, Naturalismo e Arquitetura na 2ª Metade do Século 19
Os arquitetos ligados ao movimento Artes e Ofícios como Philip Webb consideravam os seguintes pontos:
O lider do movimento, Willian Morris repudiava o historicismo ou busca de estilos passados com fins meramente decorativos, mas recomendava que os arquitetos "estudassem o trabalho dos antigos diretamente e aprendessem a entende-lo".
Valorizar práticas de construção regionais, explorando a experiência do artesão e realçando as caracteristicas inatas dos materiais.
Assim como os objetos de uso, a arquitetura deveria ser funcional e aconchegante. O Projeto deveria nascer de dentro para fora, em função das necessidades do homem. E não nascer encapsulado em um modelo neoclássico ou racionalista, com forma pré-concebida.
A arquitetura ligada ao movimento Artes e Ofícios inspirava-se no medievalismo (gótico) não por motivos meramente estéticos, mas porque era uma arquitetura funcional, a construção revelava os materias e a estrutura, e a forma das construções seguia as funções.
A arquitetura medieval era feita por homens simples e práticos, em clima de fraternidade e colaboração. Não havia o grande distanciamento entre os profissionais que projetavam e os que executavam as obras, ao contrário do que ocorria com os arquitetos neoclássicos e ecléticos-historicistas.
A arquitetura das construções medievais eram funcionalistas. Seguia as necessidades das planta e seus acréscimos ao longo do tempo.
Arquitetura Orgânica na Primeira Metade do Século 20
Alguns críticos consideram que, uma das maiores influências de F. L. Wright foi o Movimento Arts e Ofícios, que via com admiração a vida bucólica e contemplava a natureza.
Frank Lloyd Wright foi um arquiteto que pensou a arquitetura, as edificações e casas em termos de regionalismo, integradas ao meio ambiente e com uso de materiais locais. Pensava em integrar a construção ao meio ambiente, e não sobrepo-la ao meio ambiente, assim como pensava em respeitar a cultura local.
O amadurecimento de suas idéias com relação à este aspecto e a prática ao longo dos anos o levou a conceituar o que ele chamou de "Arquitetura Orgânica".
Embora não se possa dizer que se tratasse de uma arquitetura ecológica, pode-se dizer que, alguns dos principios de sustentabilidade se encontravam presentes em suas idéias de forma indireta.
Abaixo alguns dos princípios da arquitetura orgânica proferidos por Wright.
“Uma arquitetura orgânica significa nem mais nem menos uma sociedade orgânica. Os ideais orgânicos em arquitetura refutam as regras impostas pelo esteticismo e pelo mero bom gosto, assim como a gente a quem pertencerá esta arquitetura refutará as imposições que estão em desacordo com a natureza e o caráter do homem.”
A conceituação acima, foi dita por Wright em uma conferência no Royal Institute of British Architects de Londres, em Maio do ano de 1939.
Em seus projetos e ensinamentos, Wright procurava usar materiais naturais existentes no local, com fins de obter uma construção em harmonia com a paisagem, além de considerar o clima, economia de energia e unir forma e função.
Ao mesmo tento ele se utilizava também de materiais pré-fabricados fazendo bastante uso de tecnologia e planejamento da construção. Levava em conta também a questão do transporte (como logistica) e o urbanismo.
O que ele chamava de "arquitetura orgânica" seria uma arquitetura que almeja também a felecidade material, psicológica e espiritual do homem, tanto na casa, como nos entornos e na cidade. O termo "orgânico" pode ser entendido associado também à "brotar da terra" ou da natureza, e tem também uma idéia social.
Entre alguma de suas inúmeras frases famosas que sintetizam seu pensamento, algumas estão abaixo:
"Nenhuma casa em hipótese alguma deve estar sobre uma montanha ou qualquer outro local. Ela deve ser da montanha.
Ou seja, integrada e parte da paisagem, não somente em termos de aparência mas também com relação ao uso de materiais locais.
"Estude a natureza, ame a natureza, fique perto da natureza. A natureza nunca te faltará ou deixará na mão."
Wright fez casas fantásticas, funcionais e belas. Entretanto, sua obra prima em termos de arquitetura orgânica é a chamada "Casa da Cascata" construída sobre uma cachoeira. Estéticamente bela, fica um ponto à ser questionado. Seria correto monopolizar uma cascata para envolver uma residência mesmo que dentro de uma propriedade privada?
Anos de 1960 | Surgimento da Contra-Cultura no Século 20
Nos anos da década de 60 do século 20 surgiu o movimento de contra-cultura, um movimento cujos principais mentores eram alguns filósofos da chamada Escola de Frankfurt, entre Herbert Marcuse, que critivam a sociedade de consumo.
A contra-cultura, embora fosse um movimento que pregasse o excessivo desapego aos bens materiais, e uma vida menos competitiva e mais fraterna entre os homens, não era um movimento de esquerda autoritário como os movimentos ligados à esquerda Marxista Leninista (vide antiga União Soviética e Cuba). Eram movimentos libertários.
Deixando de lado as profundezas filosóficas ou políticas, os que adereriam à contra cultura em sua forma mais radical, eram os chamados "hippies", que nem sempre tinham um compreensão profunda do que era "contra-cultura" em termos filosóficos e políticos.
Entretanto, em temos de movimento, crítica que existia ao consumismo não abrangia a chamada sustentabilidade, e sim crítica frontal ao sistema consumista da sociedade, que transforma o ser humano em escravo da sociedade de consumo.
Ou seja, segundo Marcuse, o trabalhador comum, passar a trabalhar não somente para comprar o necessário, mas passa a trabalhar para consumir o desnecessário, como artigos da moda, e tudo que lhe é sugerido em forma de estimulos, vindo da publicidade ou da própria cultura consumista.
Permacultura | Cultura Sustentável
A "Permacultura" ou "Cultura Sustentável ou Duradoura", surgiu das experiências de Bill Mollison e David Holmgren. Tudo partiu da idéia inicial de Mollison de mudar-se para uma propriedade distante e cultiva-la sem usar dinheiro, partindo do princípio que poderia usar recursos locais e levar uma vida integrada com a natureza. Inicialmente a experiência era mais focada na agricultura sustentável, e em 1978 lançaram um livro chamado Permacultura. Em 1981 outra publicação com uma série de artigos foi lançada, ampliando o leque da Permacultura, abrangendo o que seria chamado de arquitetura ecológica, estudos para pequenas comunidades sustentáveis, uso de fontes de energia sustentáveis entre outras abordagens.
A Permacultura abrange também conceitos éticos acerca do uso da terra e do plantio, e das relações de cooperação entre os habitantes das comunidades sustentáveis, propondo soluções para a criação de pequenas comunidades visando a auto-suficiência e preservação do meio ambiente.
Surgimento dos Partidos Verdes
O surgimento dos "Partidos Verdes" no início da década de 1980, colocou a questão da ecologia e preservação do meio ambiente na política.
Referências Bibliográficas Consultadas e Sugeridas
- História da Arquitetura Moderna, de Leonardo Benevolo
- História da Cidade, de Leonardo Benevolo
- Introdução à Permacultura, Permacultura Design Course Séries, de Bill Mollison, 1981
- Os Fundamentos da Permacultura, de D. Holmgren, publicado em pdf por Holmgreen Design Services
Assuntos relacionados em links externos
- Website da Rede Global de Ecovilas em Inglês | Global Ecovillage Network
- Website da Fundação Findhorn em Inglês | Findhorn Foundation
- Fundo Gaia | Gaia Trust
- Website da Ecovila Clareando, em Português.
- Website do IPEMA, em Português | Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica
- Permacultura Principles | Princípios de Permacultura
- Trabalho de estudo e pesquisa sobre ecovilas | Ecovilas, Modelo Ambiental no Século 21
- Ecovilas Conceitos
- Funcionamento e Organização
- Definição de ecovila
- População Ideal
- Origens e história
- Antecedentes Históricos
- Diferença entre vilas e ecovilas
- Necessidade e Soluções
- Infraestrutura
- Princípios de Eco Habitação
- Planejamento na Eco Habitação Popular
- Casa Ecológica
- Projeto e Construcao Ecológica
- Permacultura
- Sustentabilidade